No mundo criado por Sarah J. Maas, os humanos conseguiram um pedacinho de terra para chamar de lar após anos de guerra, porém com apenas uma muralha invisível separando o mundo fantástico das fadas, povo que os escravizaram e subjugaram por anos, como um alerta dos perigos que os aguardam caso essa trégua entre eles acabe.

A protagonista Feyre é a caçula de uma família complicada e arrisco dizer inútil (duas irmãs mimadas e um pai imprestável), porém é como se eles tivessem morrido, pois o peso de alimentar a todos caí sobre os ombros da mais jovem. A vida já é difícil para uma pessoa com esse tipo responsabilidade e é consideravelmente pior quando ela vai caçar na floresta próximo a muralha, e em uma única ação vê a sua vida mudar para sempre. Ela mata um lobo gigante que na verdade era uma fada e por isso o chefão da Corte de Primavera (um “estado” dentro do domínio das fadas) a busca para pagar por seus atos.
Na estadia da Feyre na casa do Tamlin, somos apresentados as coisas lindas e mágicas que só pertencem a esse mundo, porém também descobrimos que existem duas maldições nas terras de Prythian. O enfraquecimento dos poderes acomete a todos no "país" e a outra, apenas aqueles que são da Corte de Primavera, fazendo com que todos não consigam tirar as máscaras que utilizaram em um Baile. A trama do livro gira em torno do ódio da principal para com o mundo a qual não pode fugir, os sentimentos confusos de paz em um local estranho que sempre detestou e em descobrir como acabar com as maldições.
Esse livro bebeu um gole, depois tomou um banho de A Bela e a Fera, pois o Tamlin, além de “sequestrar” e ter a maldição, consegue se transformar numa besta, num lobo. Sabemos que esse é um relacionamento abusivo, né? Não adianta se apaixonar por algo que começou com uma intenção errada.
O Tamlin é um personagem difícil de desgostar, ele exsude maestria, grandiosidade, sex-appeal e simpatia que é impossível não cair nas garras dele (piadinha intencional). O problema é que um dos seus amigos é mais interessante do que o protagonista em si, ele é mais engraçado, mais rancoroso e mais humano (apesar de ser Fada), digamos que ele é mais complexo e que eu gostaria de trocar uma boa conversa com o amigo ao invés do protagonista.
Esse é um problema que reparo em vários livros, quando o protagonista é muito certinho (ignoremos a parte de matar por ele ser a Lei nas terras dele), ele se torna blé. As nuances, as camadas na personalidade e os erros que vemos em outros personagens são esquecidos quando é criado o personagem perfeito, o colocando como coadjuvante para mim.
O livro para mim não foi denso nesse primeiro ato, pois li devagar, apenas como um lazer após dias estressantes no trabalho. Mas eu tenho uma colega que achou o livro arrastado na primeira parte, então vale a pena dar uma pausada entre leituras e não lê-lo como a minha amiga fez (#fica a dica).
No final do primeiro ato (construção e apresentação do mundo), somos apresentados a um personagem estonteantemente lindo e tenebroso, o Rhysand, algumas vezes sendo caracterizado como se emanasse uma escuridão (e esse é um de seus poderes, se esconder pelas sombras). Ele é cruel e não estou falando no sentido figurado, mas no sentido literal da palavra, de fazer coisas ruins sem dó. Mesmo assim eu o prefiro ao Tamlin (será isso um indicativo de loucura em mim?).
No segundo ato, o Rhysand é uma peça mais importante que o bananão do Tamlin, ele se mostrou menos sombrio, dando aquela camada de personalidade, o desenvolvimento para o personagem. Acredito que aprofundaram o personagem pois ele terá alguma importância no futuro, espero que seja como par romântico ou algo tão corajoso como as suas ações no final.
Falando em final, senti que é mais corrido do que o começo, mas foi tão bem escrito e mostrou que a resposta para o fim estava espalhada pelas páginas do livro. Nós (dona Feyre inclusa) devíamos ter prestado atenção e estarmos dispostos a ouvir as coisas que escolhemos deixar passar.
Apesar de ser um livro com fadas, eu não desejei um final “conto de fadas”, eu gostei da crueza e como o “mal para um bem maior” foi aplicada. É um livro que eu indicaria só por esse final, é muito legal, nada revolucionário (alou A Bela e a Fera), mas tem um toque de único que é a mistura com o místico que o torna tão interessante. Vou deixar uma frase que resume o final sem dar spoiler: Escolhas difíceis são feitas e com elas, as consequências serão um fardo a carregar pelos próximos livros.
Citações:
Tudo o que eu amo tem a tendência de ser tirado de mim.
Porque sua alegria humana me fascina, o modo como vivência as coisas em sua curta existência, tão selvagem e intensamente e tudo de uma vez, é… hipnotizante. Sou atraído por isso, mesmo quando sei que não deveria, mesmo quando tento não ser.
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