Resenha: Heroínas Negras Brasileiras: em 15 cordéis, Jarid Arraes

Na semana passada, finalizei a leitura do livro Heroínas Negras Brasileiras: em 15 cordéis, de Jarid Arraes, que ganhou uma nova edição recentemente pela Editora Seguinte com o intuito de trazer ao conhecimento do público o nome e os feitos de 15 mulheres negras que fizeram parte da história e fizeram história no passado no Brasil, mulheres essas que, como muitas outras, são habitualmente silenciadas e ignoradas. É fato que mulheres, mesmo brancas, tinham um espaço extremamente limitado no passado para terem voz e relevância - e no caso das mulheres negras, esse apagamento é ainda mais estrondoso.

Marcador e capa do livro Heroínas Negras Brasileiras: em 15 cordéis, de Jarid Arraes

Jarid Arraes traz a tona de maneira sintetizada e clara os pontos mais importantes da história de Antonieta de Barros, Aqualtune, Carolina Maria de Jesus, Dandara dos Palmares, Esperança Garcia, Eva Maria do Bonsucesso, Laudelina de Campos, Luísa Mahin, Maria Felipa, Maria Firmina dos Reis, Mariana Crioula, Na Agontimé, Tereza de Benguela, Tia Ciata e Zacimba Gaba, nos contando sobre a trajetória de cada uma e a pura rebeldia no simples ato de existirem e resistirem em tempos tão difíceis, durante ou mesmo após a escravidão já ter sido abolida. 

Mulheres que participaram de grandes revoltas que ocorreram no Brasil, que lideraram famosos quilombos, que aprenderam a ler e escrever quando era proibido alfabetizar pessoas negras, que escreveram livros, tornaram-se professoras, entraram para política etc. Enfrentando e lutando contra senhores, escravagistas e toda variedade de branco ruim racista com armas, fogo e muita gana - muitas vezes tendo finais heroicos também, apesar de trágicos -, entraram para a história, mesmo tendo sido maltratadas, torturadas, humilhadas e marginalizadas até o limite. Não bastando isso, também têm suas histórias pouco faladas, quase esquecidas, e que, como a autora destaca muitas vezes e é uma verdade lamentável, assim como a história dos povos africanos no geral, essas mulheres e outras personalidades importantes mal ou nunca são mencionadas nas nossas escolas.

Uma história como a dela
Deveria ser contada
Em todo livro escolar
Deveria ser lembrada
No teatro e no cinema
Que ela fosse retratada.

Cumprindo seu papel de trazer visibilidade à memória dessas mulheres que tiveram sua importância dentro de sua realidade, resistindo e enfrentando o dia a dia cada uma à sua maneira com todas as suas limitações e tipos diversos de agressões que sofriam, e ainda nesse formato totalmente diferente do que estou habituada a ler, que é o cordel, a leitura de Heroínas Negras Brasileiras foi super fácil e dinâmica. Era automático eu ler (mentalmente) os versos da autora no modo cantado e ritmado tão característico da literatura de cordel, o que era muito interessante e diferente do que estou acostumada.

Pra mim, que estou meio desligada de livros ultimamente (meu ritmo com eles é muito instável), sinto que foi uma escolha adequada já que me proporcionou uma leitura leve e rápida, já que os cordéis possuem um formato bem parecido com poemas, divididos em estrofes e com rimas, e tinha capítulos super rapidinhos de ler. Além disso, o livro conta com diversas ilustrações incríveis em páginas pretas, ornamentando lindamente a introdução de cada capítulo e história de todas essas protagonistas.

Ilustração do livro Heroínas Negras Brasileiras: em 15 cordéis, de Jarid Arraes

Confesso que muitas das personalidades mencionadas na obra eu desconhecia e nunca havia ouvido falar, seja na escola ou fora dela, e as poucas que conhecia, eu não tinha muita ciência sobre suas histórias, o que é uma constatação bem zoada e algo a ser mudado daqui pra frente.

É claro que o livro nos apresenta de modo resumido um pouco sobre todas essas mulheres e, pra se conhecer mais a fundo, é importante buscar outras obras com estudos e relatos mais detalhados sobre elas. Já pensando nisso, Jarid Arraes ainda oferece uma lista de peso nas últimas páginas com dicas de livros, teses, dissertações e artigos sobre essas 15 mulheres para serem lidos e consultados e se conhecer ainda mais a história delas. Não é exatamente um livro absurdo de detalhes e história, mas é uma obra que cumpre com sua proposta e tem sua dose de riqueza de informações, embora seja rapidinho e curto.

Aprendi com essa leitura - o que, na verdade, é o mínimo que todos nós, principalmente pessoas brancas, devemos fazer para conhecer, compreender, honrar e respeitar a história desse povo que sofreu e sofre até hoje nas mãos do racismo tão impregnado nesse país e no mundo inteiro, e quem sabe finalmente, de uma vez por todas, aprender e entender que não devemos nunca, jamais julgar, discriminar, maltratar, diminuir, agredir e muito menos matar pessoas por conta de sua cor e de sua raça.

Apesar de que o que aconteceu semana passada no Carrefour mais uma vez, por exemplo, parece não trazer perspectivas nem esperanças de que o ser humano vai evoluir - e se nós, brancos com o mínimo de bom senso, estamos indignados, não podemos nem imaginar o que as mulheres e homens negros desse país podem estar sentindo. Nós nunca saberemos o que essas pessoas sentem e vivem na pele diariamente.

Mas é por isso que temos que nos conscientizar, estudar e nos unirmos definitivamente na luta contra o racismo de cada dia. Nossas atitudes e a educação do hoje e o agora, que consequentemente será transmitido às próximas gerações, é o que vão definir a mudança e a verdadeira liberdade dos negros e negras desse país e do mundo inteiro de ser e poder ir e vir sem o medo de serem julgados como bandidos, de apanharem e serem torturados ou mortos em público à luz do dia. Não só falar, mas agir sempre, defendendo a vida dessas pessoas dignas e merecedoras de respeito como qualquer ser vivo.

A lição é que entregar-se
Nunca é uma opção
Só lutar que muda a vida
Batalhando em união
Com o firme objetivo
De alcançar transformação.
Giovanna Napoli

Publicado por

Giovanna Napoli

23 anos, designer gráfico, gateira que gosta de falar de animes e ouvir kpop.

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