Resenha: Teto para Dois, Beth O'Leary

“Teto para Dois” tem uma premissa intrigante e fora do comum, quem em sã consciência iria transformar o seu apartamento em uma república que tem apenas um quarto e UMA cama de casal? Bom, a resposta ideal seria o Leon, um enfermeiro desesperado em conseguir dinheiro extra para salvar a vida de alguém. E quem estaria igualmente desesperada para entrar nessa jornada um tanto absurda? A editora Tiffy que precisa fugir de um relacionamento e ganhar a sua independência mesmo que isso signifique dividir a cama com um estranho.


Editora de livros estilo “faça você mesmo” (crochê, artesanato, tricô e etc) e ter um metro e oitenta de altura vestida em um combo de roupas coloridas, fazem com que a Tiffy seja considerada pela sociedade como excêntrica. O enfermeiro de cuidados paliativos pela noite, Leon, tenta salvar a vida do irmão caçula Richie (que foi preso injustamente) e, para tentar inocentá-lo, vem fazendo o possível e impossível para conseguir dinheiro para pagar uma defesa melhor para tirá-lo do fim do mundo.

Às vezes é difícil saber se você está em um relacionamento de vários anos porque ama a pessoa ou se está acostumada a ela, por isso é um processo complicado até a autorrealização desse fato (como é o caso dos principais). Acostumado a um relacionamento sem amor, o Leon leva o relacionamento com a Kay até chegarem em um ponto de colapso: ela dizer que não acreditava na inocência do seu irmão. A Tiffy, apesar de estar solteira, continua morando com o ex-namorado abusivo, onde vê ações tóxicas e manipulativas como amorosas e cheias de afeto.
"— Relacionamentos como esse param de ser "voluntários" muito rápido. Existem muitas maneiras de uma pessoa fazer a outra ficar, ou achar que quer ficar." 
O que mais me atraiu no livro foi o fato deles não se encontrarem e ficarem trocando mensagens por post-its espalhados pela casa. A conexão que eles desenvolvem sendo pelos bilhetinhos como pelos “rastros” que deixam pela casa é algo que eu vou levar como parte principal do livro. Você se apaixona por todas as coisas que tornam a pessoa como ela é, a aparência no caso deles é indiferente e isso fica claro.

As experiências tornam tudo mais real. O Leon ficou surpreso quando a Tiffy foi atrás da amiga para perguntar sobre conselhos sobre o caso do irmão dele, eu fico me questionando: Por que algo tão pequeno significou tanto para ele? Como uma estranha demonstrar que se importa com o Richie foi um grande sinal?
"É. É verdade: é fácil conversar com ela, o que é uma surpresa maior para mim do que para ela. Provavelmente, porque só tenho facilidade de conversar com umas três pessoas no mundo todo."
O Leon era conhecido por ser reservado e de poucas palavras, mas logo foi se soltando e se apaixonando pela versão caleidoscópica que a nova moradora trouxe para o apartamento. A empolgação, gentileza e apoio que faltavam na Kay, ele encontrou na Tiffy, acreditar na inocência do seu irmão foi a cereja no bolo para se apaixonar pela jovem editora.
"— Você não pode me fazer acreditar em uma coisa que sei que não é verdade." 
O romance foi criado de maneira devagar e respeitando os limites da Tiffy que estava em processo de recuperação e começando a aceitar que estava, de fato, em um relacionamento abusivo. Sabe quando a sua vida é tão complicada e a única coisa que você precisa é de algo tranquilo para se apoiar? Os dois são a calmaria que o outro precisava.

Os personagens coadjuvantes são interessantes e peças-chaves para todos os acontecimentos do livro. A dupla de amigos da Tiffy, Mo (psicólogo) e Gerty (advogada) servem como artificio de desenvolvimento tanto na autorrealização da Tiffy como no caso do Richie. A jovenzinha com leucemia, a escritora Kathryn e o senhor Prior são histórias secundárias que te cativam e fazem com que o caminho dos dois se entrelacem mais ainda.

Definitivamente eu lerei tudo que a autora Beth O’Leary decidir lançar no mundo literário, fiquei apaixonada por "A Troca" e agora por "Teto para Dois", ela tem uma forma única de sempre trazer personagens diferentes para as suas obras sem que eles pareçam forçados, além de tocar em temas importantes com a delicadeza necessária. Talvez esse livro tenha sido muito mais dedicado e contenha gatilhos para pessoas em relacionamentos abusivos, mas são importantes de ler. Saber que não devemos, de forma alguma, aceitar ser tratada como menos, ter nossos gostos questionados por alguém que gostamos é um recado importante. (tirando a parte de se apaixonar pela essência de alguém hihi).
Sandy Banazequi

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Sandy Banazequi

23 anos, estudante de engenharia civil, Usain Bolt da leitura/séries e chorona que ama músicas tristes.

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