Resenha: A Troca, Beth O'Leary

O livro do mês de setembro da assinatura da Intrínseca, que assinei recentemente, é "A Troca" de Beth O’Leary. Foi muito fácil me colocar no lugar da Leena, uma jovem guria que perdeu a irmã para o câncer e começou a perder a si mesma para o luto, raiva e ansiedade. Três dias após o meu aniversário, soube que a minha cachorrinha estava com câncer e, durante três meses, foram incontáveis hemorragias e dores até que ela faleceu em minhas mãos, e com isso cai no mesmo buraco que a protagonista caiu. Precisei e ainda preciso de uma mudança de ares para voltar a superfície que o luto me afundou.

Capa e marcador do livro A Troca, de Beth O'Leary

Leena Cotton tem 29 anos e sente que já não é mais a mesma. Eileen Cotton tem 79 e está em busca de um novo amor. Tudo de que neta e avó precisam no momento é pôr em prática uma mudança radical. Então, para colocar suas respectivas vidas de volta nos trilhos, as duas têm uma ideia inusitada: trocar de lugar uma com a outra.

Leena sabe que precisa descansar, mas imagina que a parte mais difícil será se adaptar à calmaria da cidadezinha onde a avó mora. Cadastrada em um site de relacionamentos, Eileen por sua vez embarca na aventura com a qual sonha desde a juventude. Dividindo o apartamento com dois amigos da neta, ela logo percebe que na cidade grande suas ideias mirabolantes não são tão complicadas assim.

Ao trocar não só de casas, mas de celulares e computadores, de amigos e rotinas, Leena e Eileen vão descobrir muito mais sobre si mesmas do que imaginam. E se tudo der certo, talvez destrocar não seja a melhor solução.

O livro tem dois pontos de vista, uma da neta e a outra da avó, intercalados entre si. Nunca tinha lido uma obra em que a personagem principal era idosa e gostei dessa novidade. De início, consigo entender a parte cômica que a visão de uma idosa pode trazer para um livro, como ao buscar por um relacionamento amoroso e em sua lista de prós a frase “tem dentes” estar presente. Entretanto, temas que não damos importância (e nada engraçados) vem à tona, como o amor na terceira idade, relacionamentos abusivos e solidão. 

Somos expostos a esses assuntos pela visão da Leena quando tenta calçar as botas da avó (metaforicamente e literalmente) e seguir a vida dela como se fosse a sua, indo para reuniões e participando dos afazeres da cidade ao lado de, em sua maioria, idosos. Para quem não tem ou teve contato contínuo com pessoas mais velhas, pode até parecer exagero algumas situações e peculiaridades, como a relutância a fazer pequenas mudanças em seu cotidiano (trocar a cadeira favorita, por exemplo), e para ser sincera eu também acharia se não tivesse as vivenciado diversas vezes.

Esse livro mostra que nem sempre a frase “não dá para fugir dos seus problemas” está certa. Leena precisou "fugir" do caos para conseguir começar a se curar do luto, precisou de um tempo só para ela para aprender a lidar com a sua mãe (quem a culpava pela morte da irmã e estava tendo um relacionamento péssimo) e todos aqueles "idosos fofoqueiros" a ajudaram ver a vida por outros olhos e ajudar as pessoas a sua volta. 

Todos nós já ouvidos aquele maldito ditado “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, mas ao seguir essa porcaria deixamos pessoas inocentes em relacionamentos abusivos por anos, principalmente os idosos que não tinham a liberdade de se separar sem causar problemas à reputação da esposa. E Leena fez o que todos nós deveríamos fazer em nossas vidas, meteu a colher só um tico e estendeu a mão àquela que necessitava, e essa é a lição número um do livro. 

A lição número dois é que a depressão é um problema muito recorrente em nossa sociedade, sendo uma das principais doenças mentais que mais acometem os idosos, e a solidão é um grande fator para tal doença. Se tornar viúvo, o afastamento dos filhos, o governo que não estimula atividades para eles e o preconceito com a terceira idade faz com que muitos fiquem esquecidos e se tornem invisíveis para a sociedade. Ambas, Leena e Eileen, montam projetos para retirá-los da invisibilidade, seja com a criação de um espaço de reunião ou se comprometendo a buscar outros idosos em outra cidade, e são atitudes simples que podem mudar a vida solitária de alguns e dar a chance de fazer novos amigos

A lição número três é que o amor não pode ser destinado a apenas uma faixa de idade. Pessoas idosas amam tanto quanto nós (os jovens) e tem as mesmas vontades que qualquer pessoa. Ver a Eileen depois de anos em um relacionamento tóxico (um marido que não a incentivava em nenhum de seus projetos) ir atrás de um "caso amoroso" em Londres, me deu um orgulho dela e adorei todas as passagens no livro sobre suas conversas no site de relacionamentos com diferentes caras. Dentro dessa lição e com a mesma temática, vemos que não devemos ficar com alguém por gratidão. Devemos agradecer por tudo que aquela pessoa significou para nós, mas não significa que somos obrigados a estar em um relacionamento para sempre ou que é ingratidão quando não estamos em sintonia. 

O mocinho da história é uma grande surpresa. Depois de milhares de fanfics e histórias onde o interesse amoroso da guria é lindo, maravilhoso, mas é complicado, irritante e implicante com a parceira, ver que o principal é o oposto disso é um alívio para mim. O amor não deve ser complicado e esse cara representa isso - ele tinha todos os motivos para ser grosso com Leena, pois ela perdeu o seu cachorro e bateu seu carro, mas então viu não ela fez de propósito e que tinha pedido desculpas, simples assim. Essa característica chill (tranquila) dele não anulou o charme do personagem, as provocações eram realmente brincadeiras e não implicações idiotas. Eu sinceramente desejaria mais personagens assim em todas as plataformas para retirar aquele padrão dos badboys que te amam apesar de toda a sua escrotice. 

Apesar da minha visão na resenha focar nos pontos mais "dramáticos/pesados", o livro é bastante tranquilo e leve de ler, principalmente pelas pausas nas visões das personagens, são dois livros em um. As duas histórias são interessantes de ler, a busca para realizar o desejo da sua juventude e a busca para sair da escuridão, é uma obra sobre aprendizado entre gerações que podemos, facilmente, usar em nossas vidas. Você se pega torcendo pelos personagens e, quando atingem seu objetivo, você comemora com elas. Acho que esse é maior beleza da leitura, a imersão de um mundo diferente do seu.


Citações:

Depois que a gente aceita a dor, fica um pouco mais fácil suportá-la.

Você merece mais que isso. E nunca é tarde para se ter a vida que merece, Betsy. 

Sandy Banazequi

Publicado por

Sandy Banazequi

23 anos, estudante de engenharia civil, Usain Bolt da leitura/séries e chorona que ama músicas tristes.

4 comentários

  1. Oi Sandy, tudo bem?
    Teto Para Dois foi minha leitura favorita esse ano, então ameeei encontrar essa resenha sobre o novo livro da autora. Gostei muito dos temas abordados, a Beth parece ter como característica falar superbem de conteúdos pesados, ainda que mantenha a leveza da obra.
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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    1. Oie, Priih!

      Fui ler a sinopse de Teto para dois (só agora :/) e adorei!!! Vou colocar na minha listinha de compras desse mês, obrigada pela indicação hihi. Exato, esse livro é muito tranquilo e eu consegui absorver todos esses temas pesados nas entrelinhas.

      Beijocas

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  2. Eu não estou familiarizada com as obras da autora, mas vendo que ela consegue lidar com temas mais pesados de maneira mais fluida já me conquistou... rs Vou anotar a dica e conferir esse livro.
    Bjks!

    Mundinho da Hanna
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    1. Oie Hanna!

      Você não vai se arrepender :)

      Beijocas

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