Hunter x Hunter, do mangá homônimo escrito e ilustrado por Yoshihiro Togashi, é uma animação japonesa que conta a história de Gon Freeccs, um menino de 12 anos que tem um objetivo: se tornar um Hunter ao descobrir que seu pai, Ging Freeccs, quem ele pensava estar morto, é na verdade um dos Hunters mais habilidosos e reconhecidos do mundo. Apesar de ter sido abandonado pelo pai que priorizou sua carreira ao invés dos cuidados do filho, Gon deseja se tornar um Hunter profissional também para entender o que há de tão instigante nesse ofício que fez Ging optar por segui-lo ao invés de ficar com a família, além de obter habilidades e informações para poder reencontrá-lo (e que nunca deu pistas de seu paradeiro).

Eu assisti a versão de 2011 do anime, que já teve uma primeira versão em 1998 finalizada muito cedo durante a história porque o mangá, como é um fato conhecido até hoje, não tinha previsão de ser finalizado. Eu nunca li Hunter x Hunter, então não tenho ciência acerca do que pode haver de diferente entre o mangá e as suas duas adaptações pra televisão; irei contar minha experiência pra vocês baseada somente no anime de 2011.
No início da história, Gon parte pra sua jornada na busca pela sua certificação como Hunter em um exame altamente arriscado não só pela dificuldade e exigência absurda de suas provas, mas também pelo perigo que muitos outros participantes oferecem – é totalmente plausível matar e ser morto no meio do caminho. Nesse meio tempo, Gon acaba por conhecer pessoas que vão se tornar companheiros muito importantes pra ele: seus novos amigos Kurapika, Leorio e Killua, cada um com seus propósitos pra se tornarem Hunters.
Hunters podem ser caçadores de qualquer coisa: tanto de tesouros e criaturas exóticas quanto de outras pessoas também. A licença oferece privilégios, como a liberdade de viajar para diversos países facilmente, e dinheiro, o que atrai grande parte de seus competidores que desejam se aproveitar dessas regalias pra alcançar seus objetivos de maneira mais facilitada. Kurapika deseja vingar a sua família e os amigos que perdeu para um inimigo perigoso denominado Trupe Fantasma, um grupo de assassinos que está sempre em busca de itens valiosos para roubar – e no caso de Kurapika, foram roubados os olhos escarlates muito poderosos de seu clã. Leorio, que deseja se tornar um médico, quer usufruir da riqueza que o título de Hunter oferece pra pagar seus estudos. E Killua, que pertence a uma conhecida família de assassinos profissionais, parece querer procurar por algo em um caminho diferente do ramo familiar, com uma confiança e descompromisso notáveis.
O exame Hunter é o ponto de partida de uma história cheia de personagens diferentes e interessantes, com lutas que vão ficando cada vez mais complicadas e adversários/vilões que vão se tornando, muitas vezes, quase insuperáveis. Esse foi um dos animes mais loucos na questão de poderes e habilidades extraordinárias que já vi, e me diverti bastante assistindo.
A princípio na história, algo que me incomodava um pouco era a maneira como Gon e Killua demonstravam parecer não ter dificuldades, mesmo passando por provações difíceis onde muitos outros penavam pra completar. Quanto ao Killua, eu aceitava um pouco mais pelo fato de já ser bastante habilidoso, em razão de vir de uma família completamente atípica e ter passado por testes e treinamentos que ele raramente falava sobre, mas já se compreendia que eram totalmente fora do normal. Foi Gon quem principalmente me deu essa impressão de já deter uma força psicológica e resistência física grandes demais pra um garoto tão comum. Era uma questão que não me descia enquanto assistia ao arco do exame Hunter.
Mas então, quando novos desafios surgiram e após ver Gon levar algumas porradas, passando a encarar situações junto dos amigos em que ele via que não tinha força e habilidade suficiente e precisando de treinamentos (mesmo que ele e Killua ainda sejam praticamente prodígios e consigam aprender muito mais rápido do que outros meros mortais), eles se tornaram mais críveis pra mim, e também simplesmente me deixei levar mais pela história. Eles podem empurrar portões que pesam toneladas e nocautear caras cinco vezes maiores que eles? Sim. Eles podem desviar de ataques com reflexos insanos de rápidos? Mas é claro! Saírem quebrados, mas vivos de confrontos ridiculamente mortais? Pfff, faz favor. A maior graça, no fim das contas, é entrar na onda e só esperar pra ver como eles vão conseguir superar obstáculos, atingir novos níveis de suas habilidades e enfrentar inimigos muito mais poderosos que eles.
Apesar de ter vontade de falar um pouco sobre minhas impressões de cada trecho da história e outros personagens, não quero dar spoilers e nem alongar ainda mais o post. Algumas partes foram mais favoritas do que outras – pra mim o arco da Trupe Fantasma foi fantástico, por exemplo, e me deixou com gostinho de quero mais, e o das Formigas Quimera, apesar de ter me parecido um pouco cansativo e extenso demais, também foi uma fase surpreendente na questão de poderes e evoluções. Mas, no geral, foram todos arcos muito interessantes de assistir.

Não foi durante a série inteira que os quatro personagens principais estavam juntos. Kurapika e Leorio passaram por várias aventuras junto dos outros – como quando foram até a residência sombria da família nada convencional de Killua, e o arco da Trupe Fantasma que, como comentei, renderam episódios muito bons, com vilões realmente intimidadores, e onde Kurapika inclusive se tornou o protagonista por um momento, tendo um foco e amostra de suas habilidades incrivelmente poderosas de modo que o tornou um dos personagens mais legais e queridos pelo público. Mas foram Gon e Killua que passaram mais tempos juntos e viveram tudo que vemos na tela. E conforme eu assistia aos episódios, ia simpatizando cada vez mais com os dois personagens. Gon é bondoso, do tipo que não julga – ele não se assusta nem se afasta quando sabe que Killua é de uma família de assassinos, por exemplo, e simplesmente acaba vira seu grande amigo –, às vezes um pouco teimoso e impulsivo, mas leal a todos que são queridos à ele, o que por vezes o coloca em situações tensas quando quer defendê-los ou salvá-los. É um personagem ao qual me afeiçoei, é meio impossível não achar graça dele e da sua vozinha de criança sempre entusiasmada.
Porém, foi Killua que senti que foi o personagem mais legal de assistir, não só por conta do desenvolvimento de suas habilidades, mas principalmente de sua personalidade. Toda aquela aura de despreocupação e extrema confiança muito distinta dele no início da história, como se fosse um ser invencível, foi quebrada quando, aos poucos, o personagem foi se vendo em situações dificultosas e tendo momentos de grande vulnerabilidade que não se imaginava que ele tinha, devido à uma enorme influência e um certo controle por parte de seu irmão mais velho, Illumi – que apesar de demonstrar se importar com o mais novo (mesmo que de maneira meio deturpada), é uma relação disfuncional e nada saudável.
Eu não sou o tipo de espectadora que costuma amar os personagens não-bonzinhos como muita gente gosta (apesar que, embora a família do Killua seja totalmente bizarra, me diverti muito com a dinâmica que existia ali, onde a rotina daqueles personagens que cometiam e falavam sobre seus serviços de assassinatos e torturas no dia a dia era totalmente normalizada naquela realidade). Então foi ainda mais fácil de gostar do Killua quando ele mostrou que não seria somente um assassino definido e limitado pelo estilo de vida dos irmãos e dos pais – demonstrando ser mais sensível do que transparecia, enfrentando a família e o irmão mais velho em momentos decisivos pra ele –, e que passa a encontrar sentido em outras coisas, como em sua amizade com o Gon e os outros rapazes, os objetivos que eles passam a cumprir juntos ou com outros companheiros que encontram no caminho, e que não é um indivíduo de coração frio que vive em função de somente matar ou não matar alguém. Assim como Gon, Killua se tornou um personagem bastante querido.
"Aproveite os desvios da jornada ao máximo. Porque é onde você encontrará coisas mais importantes do que aquilo que deseja."
Hunter x Hunter, apesar de eu ter tido certa resistência pra assistir (porque no ano passado, em uma primeira tentativa de acompanhar a história, não me prendeu e acabei desistindo nos primeiros episódios), me conquistou pra valer dessa vez. Foi bem cativante, com confrontos marcantes e demonstrações de poder absurdas que se tornaram icônicas na história do anime – e não somente de força física, mas jogos mentais também se tornaram cada vez mais presentes na obra. Além do amadurecimento dos personagens quando se deparavam com situações perigosas e a constatação de que não eram páreos pra tudo independente de confiança e força de vontade – ainda mais quando acontecia a perda de alguém querido. Esse último fato leva Gon, mais do que ninguém, a limites antes inimagináveis, rendendo um dos momentos mais épicos e também mais fortes do anime, onde observamos que aquela inocência tão característica do personagem há muito não existe, e também a força do ódio na mais pura forma, com consequências quase letais.

Me surpreendi positivamente por diferentes fatos, mas também pela história não ser do tipo que inferioriza muito as personagens femininas. Os personagens masculinos do anime ainda são os que recebem mais destaque, os que mais vencem, estão em maior quantidade e dispõem de poderes extraordinários, mas as personagens femininas – tanto as aliadas quanto as vilãs – são poderosas à sua maneira, algumas mais do que outras, e não podem ser menosprezadas. E também não são sexualizadas como em outros animes que já vi – dá pra contar no dedo a quantidade de personagens que detêm um visual um pouco mais provocante, mas pelo pouco tempo de tela que têm, não é algo que incomoda e nem algo de grande importância, o que eu achei ótimo. Apesar de não ser a maioria, muitos animes, tanto antigos quanto novos, ainda abusam desse tipo de fanservice.
Outra história do mesmo autor de Hunter x Hunter, o famosíssimo Yu Yu Hakusho que consagrou Yoshihiro Togashi, sendo um anime muito relevante e querido pelo público até hoje (e que fez parte da infância de muitas pessoas, principalmente por ter sido dublado e transmitido em canais brasileiros no passado), tinha algumas situações um pouco desconfortáveis. Embora eu tenha visto apenas alguns episódios, chegando somente à metade do segundo arco de toda a história, tive uma amostra do protagonista que tinha o péssimo hábito de apertar seios e levantar saias deliberadamente e sem consenso em vários episódios. Porém, como comentei, vi somente uma parcela do anime, não tenho conhecimento se houve uma melhora desse aspecto e nem posso analisar a obra completamente – quis somente fazer um comparativo de alguns detalhes que observei nas duas criações mais famosas do autor. O fato de Hunter x Hunter não ter apresentado situações desse tipo me fez ter uma experiência muito agradável. O único personagem com sexual vibes mais bizarras que já vi nesse anime é o Hisoka. Aos que já viram, vocês sabem do que tô falando. Aos que forem assistir, vocês vão entender (risos nervosos)!

Hunter x Hunter está disponível completo legendado na Crunchyroll, com 148 episódios e um último que cria um enorme gancho e dá indícios de que muita história ainda está por vir, sobre coisas nunca vistas, muito além do ordinário e desse mundo. E mesmo já tendo muita história contada, infelizmente é um anime inacabado que não tem previsões de volta. Isso se deve ao fato do mangá constantemente entrar em hiato há muitos anos e a história ainda estar longe de ser concluída.
Toda essa polêmica é antiga e se resume em duas questões já muito conhecidas pelo público: Yoshihiro Togashi sofre há muitos anos de dores crônicas intensas nas costas, o que, sem dúvidas, atrapalha seu fluxo de trabalho para lançar novos capítulos da história como gostaria. E também o fato de ter se tornado um autor de renome, graças à outras obras que o consagraram (como Yu Yu Hakusho), e provavelmente também graças aos fãs e o sucesso de Hunter x Hunter, felizmente o mangá ainda se mantém ativo sem ser cancelado, permitindo que o autor publique novos capítulos no seu tempo, evitando a alta demanda e o estresse que as publicações semanais devem exigir e pela qual ele passou com Yu Yu Hakusho, o que pode ter sido um agravante de sua situação.
Segundo o próprio Togashi, "chegou ao ponto em que ou a história termina ou morro antes que isso aconteça". Sendo um autor que deve preferir cuidar de sua própria obra ao invés de delegar funções a outros ilustradores que possam ajudá-lo a prosseguir com o mangá, Yoshihiro Togashi demonstra que, apesar de demorar, ainda quer e tem muito o que contar sobre o universo já tão rico de Hunter x Hunter – do contrário, ele já teria dado um fim a narrativa há muito tempo. Só nos resta saber se os fãs um dia terão alguma perspectiva e chegarão a ver um fim para a história de Gon e seus amigos. Fica essa enorme expectativa sem nenhuma previsão de que acontecerá.
2 comentários
Oi Giovanna,
ResponderExcluirConfesso que não me animo muito a ler mangás. Meu foco são mais nos romances mesmo, mas tenho amigos que adoram, então vou repassar a dica a eles!
beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Oi, Alessandra! Os mangás eu li poucos, mas ando super envolvida com o mundo dos animes, tenho inclusive uma listinha dos próximos que quero ver haha <3 Tomara que seus amigos curtam a sugestão, caso ainda não tenham assistido. Abraços!
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