Resenha: Um Lugar Só Nosso, Maurene Goo

Capa e marcador do livro Um Lugar Só Nosso, de Maurene Goo

Lucky ingressou muito cedo no universo do K-pop. Aos dezessete anos, ela é uma febre na Ásia e a grande aposta de sua gravadora para conquistar o Ocidente – mas ainda tem dúvidas de que essa é a vida que realmente deseja. Por isso, em uma noite pouco antes de viajar para os Estados Unidos, ela resolve sair disfarçada de um hotel em Hong Kong para fazer tudo o que quiser.
É então que Lucky encontra Jack, um jovem paparazzo. Sem saber que está ao lado de uma das maiores celebridades do momento, ele acompanha a garota pela cidade e os dois desenvolvem uma conexão especial, mas Jack logo se vê num dilema quando percebe que tem o maior furo de sua carreira bem à sua frente.
Em um fim de semana repleto de música e reviravoltas, os dois se aproximam e aprendem muito um com o outro – mas as mentiras entre eles podem colocar tudo a perder.

Em Um Lugar Só Nosso, a história nos apresenta Lucky, uma grande estrela do pop coreano que está prestes a se arriscar no mercado norte-americano para disseminar ainda mais seu nome e sua popularidade, e Jack, um recém-formado que convenceu os pais a tirar um ano sabático com o propósito de adiar uma possível entrada na faculdade, apesar de ser contra sua vontade.

Em uma sexta-feira comum em Hong Kong, os dois protagonistas se conhecem – uma após finalizar o último show de sua turnê e fugida de seu hotel, em um momento de escape de sua rígida rotina como uma celebridade do K-pop, onde há anos têm quem a diga como se comportar, o que vestir e até o que comer, e o outro depois de realizar seu mais recente trabalho (que ele mantém em segredo pra família) como fotógrafo de um grande tabloide de Hong Kong. Em um encontro aleatório e improvável, Jack e Lucky acabam passando a noite juntos fazendo coisas triviais, com Lucky tendo um último gosto do anonimato que há muito sentia falta, na companhia de alguém que não está com ela simplesmente por interesse, já que Jack não a reconhece.

Até o momento que a reconhece. Vendo uma enorme oportunidade cair em seu colo, Jack consegue passar o fim de semana com Lucky enquanto ambos mentem e omitem detalhes de suas vidas (e até de sua identidade, no caso de Lucky) um ao outro para não serem descobertos, fingindo serem pessoas diferentes ao passo que vão desenvolvendo uma conexão durante o curto período que passam juntos, revelando inseguranças profundas, mesmo que de maneira velada, e construindo uma intimidade mesmo sendo desconhecidos.

Durante as muitas horas que caminham pelas ruas de Hong Kong, visitando pontos turísticos e comendo refeições deliciosas só de imaginar pelas descrições, Lucky e Jack conversam sobre diversos assuntos e, ainda que com cautela, trocam confidências e medos. Lucky, apesar de ter almejado a possibilidade de se tornar uma estrela do kpop desde nova e ter tido as oportunidades e apoio familiar pra poder correr atrás desse sonho e se esforçar pra se tornar uma das melhores, agora se questiona se ainda tem como oferecer o que essa enorme indústria deseja extrair dela, e se a indústria também dispõe de um novo sentido que agora procura. E Jack que, embora possua o olhar e habilidade para a fotografia, não a compreende como paixão, e não sente que é levado a sério pela família por desejar seguir o ramo artístico ao invés de ter estabilidade garantida em um emprego mais tradicional, então é travado pelo receio de não haver uma perspectiva de vida que o satisfaça.

Com suas complexidades e dilemas pessoais, ambos trazem a tona discussões sobre sonhos e o esforço de se correr atrás do que deseja (quando se tem oportunidades e privilégios, claro), e o medo que reside na possibilidade de ousar e se arriscar a fazer algo diferente daquilo que esperam deles. A família não o aceitaria? A agência e o público a rejeitariam? Os sonhos e as inseguranças – e pra grande maioria menos privilegiada, a falta de oportunidades ou de condições de correr atrás de seus objetivos – fazem parte da história de todos nós, seres humanos, e certamente é um tópico com o qual muitos leitores devem se identificar. E gostei da maneira como a história nos apresenta em seu desfecho a resolução das questões dos nossos dois protagonistas dentro de suas realidades, mostrando que sim, foi possível: ao se entenderem mais profundamente no meio do caminho e compreenderem ou reencontrarem o que verdadeiramente movia seus corações, puderam se realizar, se adaptando sem precisarem abrir mão daquilo que fazia sentido pra eles e que faziam com paixão.

Preciso registrar minha experiência muito pessoal com esse livro, já que senti a sensação de genuína empolgação ao se mergulhar em uma história e querer devorar cada capítulo novo depois de muitos anos sem sentir isso. De verdade, há um bom tempo que não experimentava esse apego tão gostoso de se envolver verdadeiramente com uma história, de ao mesmo tempo que se quer ler tudo, também resiste à ideia de ter que se despedir quando acabar.

Não quero dizer que foi um livro extraordinário e revolucionário da história dos romances, mas o clima confortável construído durante a história, com um romance crescente e alguns picos ligeiramente mais dramáticos, tudo numa vibe digna de um drama coreano, foi o doce clichê que eu não sabia que estava querendo consumir. O fato de englobar um pouco esse universo do K-pop que eu gosto tanto fisgou ainda mais minha curiosidade pela história, mas também por ser mais uma daquelas narrativas de um amor entre uma estrela e um cara comum, com uma grande dose de expectativa pelo fato dos dois personagens enganarem um ao outro constantemente e que a qualquer momento poderiam se pegar na mentira, somado a esse plano de fundo turístico muito agradável, enquanto um sentimento mais forte ia se desenvolvendo entre eles, ao mesmo tempo que se faziam presentes a culpa e o receio do que poderia acontecer se as mentiras fossem descobertas... Em suma, foi um romance muito gostosinho e que eu amei acompanhar.

A escapada ousada por Hong Kong é recheada de passeios turísticos e gastronômicos durante toda a história – o que me fez relembrar novamente minha vontade de realizar esse tipo de viagem um dia (como já até comentei em outro post por aqui), de andar por cidades e comer comida boa em restaurantes, lojinhas e barraquinhas que se encontra despretensiosamente rs. Em Um Lugar Só Nosso, todas esses aspectos que criam uma ambientação comfy regada com o romance que a gente tanto adora, não importa o quão batido seja, só fazia crescer o meu desejo que tanto Lucky quanto Jack conseguissem resolver em seu interior seus conflitos pessoais e deixassem as mentiras de lado pra que logo pudessem ficar juntos.


A narrativa, mesmo se passando quase inteiramente em apenas um fim de semana, não é arrastada e nem rápida demais. Senti que tudo ocorreu na medida e no ritmo certo, proporcionando uma leitura tranquila e envolvente. Adorei conhecer uma das obras de Maurene Goo e também conhecer a própria autora. Além disso, fiquei gamada na capa lindona da Seguinte, ilustrada por Carmell Louize (que recentemente compartilhou essa fanart fofíssima do casal do livro no Instagram).

Um Lugar Só Nosso foi uma leitura muito querida, com um romance na dose ideal e um casal que me conquistou demais (shippo pra valer, Lucky s2 Jack), o que é impressionante pra uma pessoa que dificilmente lê ou assiste romances e não se apega a qualquer casal que aparece na sua frente. Por ter me propiciado uma experiência tão agradável de uma maneira completamente inesperada, ficou carinhosamente marcado pra mim.
Giovanna Napoli

Publicado por

Giovanna Napoli

23 anos, designer gráfico, gateira que gosta de falar de animes e ouvir kpop.

4 comentários

  1. Oi Giovanna,
    Quando o livro foi lançado, eu confesso que não fiquei animada a lê-lo.
    Mas depois, vi tanta gente elogiando que mudei de ideia e agora o quero. kkkkkkkk
    Deveria ter pego quando ficou disponível no NetGalley!
    beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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    1. Oi, Alessandra! Ah, eu achei que foi uma história super gostosinha de ler, também vejo muitas outras pessoas elogiando por aí. Tomara que você goste <3 Beijos!

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  2. Oi, Gi!
    Acho tão legal livros que apresentam outras culturas.
    Acho que nunca li uma história que se passasse na Coreia.

    Um beijo,
    Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
    Algumas Observações
    Projeto Escrita Criativa

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    1. Oi, Fernanda! Também gosto bastante, é bem enriquecedor. No caso desse, apesar de ter personagens de descendência coreana, se passa em Hong Kong quase que em 100% do livro, mas ainda assim é muito legal. É muito bom ler histórias diferentes das tão comuns que tem aos montes por aí. Beijos!

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