Crítica: Os Novos Mutantes (sem spoilers!)

Há três anos, ninguém imaginava que seria uma luta tão grande para finalmente conseguirem lançar “Os Novos Mutantes”. O filme, que é a última parte da franquia X-Men lançada pela Fox nos cinemas, antes dela ser rebootada pela Disney, era para ter estreado em 2017 e, desde então, passou por inúmeras mudanças de data até que (no meio de pandemia, porque esse filme não tem um minuto de paz) ele foi lançado aqui no Brasil, neste dia 22 de outubro.


"Os Novos Mutantes", dirigido por Josh Boone, é uma mistura de drama adolescente com filme de terror - ele só se torna um filme de super-herói como conhecemos em seu último ato. Mas isso não é um demérito, pelo contrário, para mim foi o que tornou o filme mais interessante. É como um “Clube dos Cinco” mais problemático - o grupo formado por Dani Moonstar (Miragem), Rahne Sinclair (Lupina), Sam Guthrie (Míssil), Roberto da Costa (Mancha Solar) - o primeiro e único X-Men brasileiro - e Illyana Rasputin (Magia) precisa não só enfrentar uma figura de autoridade, a doutora Cecília Reyes, mas precisam também reviver seus mais traumas mais profundos, para poder escapar do cárcere em um hospital digno de pesadelos.

Uma boa parte do lore dos X-Men, tanto nos quadrinhos quanto no cinema, é o processo de descoberta dos poderes gerados pela mutação, o gene X, pela qual os heróis passam, geralmente na adolescência - e as consequências, físicas e sociais, que são sofridas após esse processo. Além da história traumática de Jean Grey, em Fênix Negra (uma bomba de filme, mas mesmo assim…), onde é explorada a gênese de seus poderes, quando ela, sem querer, causa a morte de seus pais em um acidente de carro, não me lembro de ver um filme que explorasse tão bem a parte negativa dessas histórias quando “Os Novos Mutantes”.

Cada um dos personagens, ainda jovens e sem total controle de suas habilidades, é forçado a reviver as consequências da revelação de seus poderes de maneira vívida, depois da chegada de Dani Moonstar na instalação onde estão internados, na forma de alucinações causadas, por acidente, pela garota - as relações entre eles, que já são frágeis, são abaladas por isso. Vemos uma história de amadurecimento e superação, simbolizada pela união e pelos laços de amizade improváveis que são criados ali pelos protagonistas.

Por trás do clima de terror e suspense, foi legal ver que os personagens ali - que sabemos que um dia serão grandes e famosos X-Men, pelo que conhecemos deles nos quadrinhos - são adolescentes como quaisquer outros. Eles entram em picuinhas aleatórias, flertam, assistem episódios antigos de Buffy, A Caça Vampiros em um velho vídeo cassete, dançam, e o mais importante de tudo - não se conformam com a autoridade de Cecília Reyes. A rebeldia deles, que no início parece só pirraça, é o que os salva no final.

Infelizmente, não teremos uma sequência de “Os Novos Mutantes” - e é uma pena, porque ele é um dos melhores filmes já lançados sobre os X-Men. Apesar dele ser um pouco arrastado no início, o suspense é bem construído, as partes com uma pitada de horror convencem bem e a ação no final, quando o grupo enfrenta o Urso Místico, é bem incrível - quando eles percebem o potencial que têm e usam suas habilidades pra valer pela primeira vez, é de encher os olhos.

Espero que um dia as histórias dos Novos Mutantes sejam contadas novamente na tela do cinema - eles são extremamente divertidos de se assistir, individualmente ou em grupo, e são alguns dos mutantes mais importantes da franquia. O potencial é grande, agora só falta o nosso querido Kevin Feige, e a dona Disney, decidirem o que irão fazer com ele.
Luiza de Toledo

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Luiza de Toledo

23 anos, estudante de letras, professora, pseudo-cinéfila e sommelier de fanfiction.

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