Não é de hoje que já estamos cansados de saber o quão multifacetada é a Lady Gaga. Desde sua estreia na música com The Fame, em 2009, com suas perucas platinadas, bolas de espelhos e aquela vibe meio pop farofa decadente (e totalmente de propósito), passando pelo “pop arte”, pelo country e pelo jazz, até o seu mais novo - e mais maduro - lançamento, Chromatica, lançado neste ano, durante a quarentena, tivemos o prazer de acompanhar a arte dela em diversas plataformas. Mas existe uma plataforma em particular que ela sempre se destaca, e é de lá que surgem as seus maiores êxitos: os videoclipes.
Houve uma época - não tão distante assim - que o dia de lançamento de um clipe da Lady Gaga era um evento. Tipo, o equivalente pop da final da copa do mundo, ou do capítulo final de uma novela muito querida pelo público. O mundo simplesmente parava pra assistir e comentar e analisar cada segundo dos novos visuais que a Mother Monster, juntamente com a sua Haus of Gaga, vinha nos servir. Acredito fielmente que, depois de Michael Jackson nos anos 80, a Gaga foi quem trouxe uma segunda revolução em como produzimos, enxergamos e consumimos videoclipes, e esse seu legado será para sempre lembrado.
No mês passado, tivemos um pequeno revival do que era essa expectativa quando a cantora anunciou o lançamento do clipe de “911” - minha música favorita do Chromatica - no Youtube. Então, no dia 18, estávamos todos lá acompanhando a revelação de mais uma obra de arte no formato de um pequeno filme surrealista. O clipe foi seguido de um milhão e uma análises, dissecações, explicações de diversas lentes diferentes, pela sua riqueza de referências à clássicos do cinema como A Cor da Romã, de Sergei Parajanov e El Topo, de Alejandro Jodorowsky, se misturando com a própria experiência de vida da Lady Gaga, em seus altos e baixos com relação à saúde mental.
Depois de todo o bafafá em volta de “911”, comecei a me lembrar dos outros, também incríveis, clipes que ela lançou ao longo dos anos e decidi mostrar que não foi só agora que a Gaga traz referências externas pros seus trabalhos visuais, muito pelo contrário, elas estavam lá desde sempre.
Paparazzi (2009) - Dir. Jonas Åkerlund
O clipe de Paparazzi é referido, pela própria cantora, como um “curta-metragem” e é foi primeiro projeto em vídeo mais ambicioso dela. Com 8 minutos de duração, Paparazzi, assim como todo o álbum The Fame, é uma paródia do glamour decadente de Hollywood, com todos os seus excessos, narcisismos e loucuras. Essa alegoria toda se dá, em uma de várias formas, na referência às bandas de glam rock dos anos 80, vistas tanto no clipe, com os caras de cabelos loiros, couro e bandanas - quanto na letra da música, quando Gaga usa “loving you is cherry pie” trazendo o sucesso de 1990 da banda Warrant.
Fica aqui também a menção honrosa à performance que ela fez, dessa mesma música, no VMA de 2009 - uma das apresentações mais memoráveis da história do prêmio, com direito a banho de sangue e tudo.
Telephone feat. Beyoncé (2010) - Dir. Jonas Åkerlund
Se você perguntar pra mim (eu, Luiza), vou te dizer que Telephone é a grande obra prima do pop dos anos 2010, tanto a música em si quanto o clipe. Eu sei que é uma declaração forte a se fazer e que talvez existam outras músicas e outros clipes mais icônicos do que esse (mas eu vou ter que discordar).
A grande sacada de Telephone são as suas referências ao cinema de Quentin Tarantino, desde as cenas exageradas de assassinato, a road trip como em À Prova de Morte e até o nome da personagem de Beyoncé, “Honey Bee”, como a personagem “Hunny Bunny”, de Pulp Ficiton.
Judas (2011) - Dir. Lady Gaga e Laurieann Gibson
Artista pop que se preze tem que se envolver com alguma polêmica com a Igreja Católica em algum ponto da sua carreira (desculpa, não sou eu que faço as regras). Então, assim como a mamãe Madonna antes dela, a Gaga foi bastante criticada pelo clipe de Judas, que traz uma releitura da história de Jesus Cristo e seus discípulos como uma gangue de motoqueiros. As imagens do vídeo são bem influenciadas pela arte religiosa, especialmente figuras do Renascentismo, como na cena em que ela está em pé em uma pedra cercada por ondas, como a deusa Vênus na pintura de Botticelli.
G.U.Y, An Artpop Film (2014) - Dir. Lady Gaga e Nicole Ehrlich
Por falar em Vênus, não dá pra deixar de fora G.U.Y. O curta de 11 minutos foi gravado no Castelo Hearst, na Califórnia, famoso por já ter sido utilizado para a gravação do filme Spartacus, de Stanley Kubrick, nos anos 60. O clipe mistura as músicas Venus e G.U.Y, e para combinar com as referências à mitologia grega feitas em ambas as músicas, Gaga traz inúmeras imagens da arte greco-romana, com as estátuas na piscina, nos quartos (em mais uma homenagem ao quadro de Botticelli, na cama em formato de concha), nos vasos de cerâmica e na simbologia geral do vídeo. Ela também mistura essas imagens clássicas com imagens contemporâneas da cultura pop, como Michael Jackson e John Lennon.
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