Resenha: Ouro, Fogo e Megabytes, Felipe Castilho (O Legado Folclórico vol. 1)

Em homenagem ao Dia do Folclore Brasileiro que será neste próximo sábado, dia 22 de agosto, busquei uma leitura especial que abrangesse a nossa cultura e criaturas lendárias pra fazer uma resenha também especial aqui no blog!

Capa do livro "Ouro, Fogo e Megabytes" de Felipe Castilho

"Como esconder uma suspensão escolar dos pais, resgatar uma criatura mágica das garras de uma poderosa e mal-intencionada corporação e ainda por cima salvar o país de um desastre sem precedentes?

Anderson Coelho, um garoto nada extraordinário de 12 anos, divide sua vida entre a pacata realidade escolar e uma gloriosa rotina virtual repleta de aventuras em Battle of Asgorath, jogo de RPG online em que jogadores do mundo todo vivem num universo medieval, cheio de fantasia. Lá, Anderson – ou Shadow, nome de seu avatar – tem vida de estrela: é o segundo colocado do ranking mundial. E são justamente suas habilidades que chamam a atenção de uma misteriosa organização, que o escolhe para comandar uma missão surpreendente junto com um grupo de ecoativistas nada convencionais.

Ao embarcar para São Paulo, Anderson mergulhará de cabeça em uma aventura muito mais fantástica que as vividas em seu computador. Os encontros com hackers ambientalistas, ativistas com estranhos modos de agir e muitas criaturas folclóricas oferecerão a Anderson Coelho respostas não só sobre sua missão, mas também sobre sua própria vida, enquanto um novo mundo se descortina diante de seus olhos."

Em Ouro, Fogo e Megabytes, Anderson Coelho, um menino comum de 12 anos que vive em uma cidade do interior de Minas Gerais, acaba indo parar em uma viagem rumo a São Paulo graças a um – a princípio enigmático – homem anão que misteriosamente o encontrou através de seu jogo online favorito – Battle of Asgorath, onde, em contraste com sua vida real, é um exímio elfo com grande aptidão pra liderança – e o convidou à ir a cidade para ajudá-lo em uma missão sigilosa envolvendo uma invasão hacker a uma grande empresa ligada ao sequestro de uma entidade folclórica, apesar de não ter habilidade alguma para tal feito.

Após uma sucessão de acontecimentos estranhos, incluindo a improvável aprovação de sua viagem por parte de seus pais, Anderson logo se encontra em um casarão em São Paulo que é o lar de um grupo de adultos e crianças denominado Organização, que realiza simples ações para conscientização das pessoas em relação ao cuidado com o meio ambiente, além de sempre buscarem defender a natureza das grandes corporações interessadas somente na exploração de seus recursos e em sua destruição. 

Neste espaço, com as mais diferentes pessoas, embora não tenham nenhuma relação de sangue e não possuam muitos luxos, Anderson encontra uma verdadeira família que convive de maneira harmoniosa e exemplar, de onde tira valiosos ensinamentos. Além de se deparar com muitas perguntas e surpresas que surgem constantemente durante seu curto período de estadia na Organização e que aos pouquinhos vão sendo esclarecidas, revelando conexões inesperadas e, mais tarde, uma infeliz traição.

A narrativa traz reflexões muito relevantes a respeito do descuido do homem com a natureza em detrimento de interesses próprios e do dinheiro, de como os poderosos só têm o interesse de se manterem poderosos enquanto grande parte da população permanece em desvantagem, como se a desigualdade fosse sensata e necessária para a sociedade, e de como os meios de comunicação e tecnologias – como a televisão, a imprensa e a internet – que permitem a propagação do bem de maneira ampla, também abrem espaço para a disseminação de mentiras e manipulações com a mesma facilidade.

"A internet é uma ideia. O que é feito dela depende de cada pessoa, do caráter de cada uma. É como uma faca... pode cortar um pão ou pode matar alguém."

O autor nos apresenta personagens – tanto os comuns quanto os fantásticos – muito legais, que se tornam novos grandes amigos de Anderson e o apresentam a conceitos e valores essenciais, além de histórias do passado que contextualizam a existência de algumas criaturas, e que o traz novos olhares sobre a vida e a importância do zelo à natureza. Além de, juntos, passarem por situações verdadeiramente extraordinárias (e em grande parte mortais), do tipo que Anderson via somente em seus jogos virtuais com seres míticos fictícios, enfrentando criaturas que normalmente só escutamos falar nas populares lendas do folclore. Tive a oportunidade de conhecer, inclusive, algumas que nunca tinha ouvido falar antes, o que foi bem legal (vivendo e aprendendo).

Nos diversos confrontos, reconheci a familiaridade da coragem surpreendente de Anderson para enfrentar não só seres folclóricos, mas também seres humanos perigosíssimos, mesmo sendo apenas um pré-adolescente de 12 anos, que costumamos ver em muitos outros jovens heróis de histórias fantásticas. O desfecho do livro, onde há um último grande confronto com direito a muita porrada, poderes e uma criatura gigante de fogo aterrorizante e ao mesmo tempo admirável, foi super interessante de ler, me trazendo o pensamento de que, se houvesse uma produção verdadeiramente boa, uma adaptação pras telas seria muito incrível, um grande show de representatividade da cultura nacional e com reflexões e ensinamentos importantes pra todo espectador que assistisse, desde os mais novinhos aos mais velhos.

Afinal, porque muitas vezes acreditamos tão fielmente nas obras de fantasia de autores estrangeiros e não temos essa mesma disposição para as histórias aqui do Brasil? A leitura me fez mergulhar na narrativa e nos mitos das criaturas do nosso folclore e suas ligações com a natureza da maneira como deveria ser, além de inspirar maior respeito e valorização pela nossa literatura fantástica, nossa cultura e mitologia, que é tão rica e variada, e pode e deve ser apreciada sem vergonha e desdém.

Ilustração do livro "Ouro, Fogo e Megabytes" de Felipe Castilho

Ouro, Fogo e Megabytes, o primeiro livro de Felipe Castilho publicado em 2012 e também minha primeira leitura de suas obras, foi uma positiva surpresa, com mensagens que nunca deixarão de ser atuais. Pra uma pessoa que já teve certos preconceitos (bem ridículos) acerca de histórias que envolvem o folclore nacional e há um tempo conseguiu quebrar parte desses pensamentos, ainda cheguei a ter algumas dúvidas se me envolveria com a trama da maneira como um dia cheguei a crer nas histórias mágicas de Rick Riordan, por exemplo. Mas vencendo essa pequena resistência que se fazia presente nos primeiros capítulos, a narrativa me conquistou pra valer e, principalmente da metade até o final da história, onde tensões cada vez maiores foram surgindo até um conflito final digno de se assistir em uma série ou filme, minha suspensão de descrença foi definitivamente estabelecida e pude aproveitar essa história tão bacana da maneira devida.

Fica a dica de leitura! Vamos valorizar cada vez mais os autores, a cultura e a literatura fantástica aqui do Brasil.
Giovanna Napoli

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Giovanna Napoli

23 anos, designer gráfico, gateira que gosta de falar de animes e ouvir kpop.

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