5 indicações para o Dia Nacional do Documentário Brasileiro

No dia 07 de agosto é comemorado o Dia Nacional do Documentário Brasileiro, e com a grande procura por documentários de produção nacional após o marco histórico de sermos reconhecidos (no sentido de nós, brasileiros) no Oscar de 2020, decidi expandir o meu leque e indicar alguns documentários para vocês também. Já me adianto que não falarei sobre Democracia em Vertigem, vou focar em alguns mais antigos que julgo serem tão importantes quanto. 

Entre os temas que escolhi, estão: distúrbios psicológicos, greves, lixões, tráfico e música; Uma grande e vasta seleção tanto para o meu aprendizado, que confesso ter dado um salto absurdo porque me deu conhecimento de momentos da nossa história, quanto para que eu possa apresentar para um público plural e diverso. 

Holocausto Brasileiro, 2016 – dur. 1h 30min 


Cena do documentário "Holocausto Brasileiro"

Esse documentário de Daniela Arbex, autora do livro de mesmo título, e Armando Mendz relata algo que foi velado, esquecido e sucumbido ao vazio da nossa história. Um exemplo é a foto que escolhi colocar aqui, será que é de um campo de concentração nazista? Não, isso é Brasil, isso é Minas Gerais, onde diversas pessoas eram abandonadas ou enviadas para serem tratadas, porém muitas morreram, sendo de fome ou pelas condições sub-humanas as quais eram subjugadas.

60 mil pessoas morreram. 60 mil vidas tiradas por nós, as pessoas que fecharam os olhos para o tratamento daqueles que julgamos “loucos”. Entrevistas com filhos de pacientes que foram retirados da mãe por não poderem ficar no hospício, com funcionários que explicavam os procedimentos e a rotina deles e principalmente, as fotos que machucaram a minha alma. Imagens que mostram a vida deles, pacientes abandonados pelados e desprovidos de emoção em pátios rodeados por urina e fezes. 

É uma tristeza que esse episódio aconteceu, mas é necessário ver, sentir e refletir sobre o passado de uma nação marcada por diversas tragédias. A frase de Burke: “o povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la” é um lembrete diário para nos informarmos mais e também lembrarmos que devemos utilizar a nossa cidadania com todos. Não apenas com aqueles que julgamos “normais”. 

ABC da Greve, 1979 - dur. 1h 15min 


Cena do documentário "ABC da Greve"

Necessito frisar que não cabe julgamento político do futuro, apenas filmagens de quem era o líder da época, então sugiro que deixemos os sentimos atuais de lado e foquemos apenas em um dos maiores movimentos sindicalistas do Brasil. O documentário retrata a greve dos metalúrgicos que aconteceu em 1979 em Santo André, São Bernardo e São Caetano, e entre os seus líderes estava o futuro presidente Lula. 

Contém filmagens e entrevistas com os participantes da manifestação, com relatos das condições tristes que os acometiam, por exemplo: não recebiam o suficiente para manter as despesas do lar e, com isso, para auxiliar na receita da casa, as crianças começavam a trabalhar cedo com 13-14 anos  (além de receberem menos, assim como as mulheres, para exercer a mesma função que os homens adultos). Além de apontar o fato de que a quantidade de favelas no ABC cresceu absurdamente ao redor das metalúrgicas. 

O documentário do diretor Leon Hirszman foi filmado em 1979, mas finalizado apenas em 1990 após alguns problemas como o falecimento do diretor e a adequação para o cinema. Considero o documentário extremamente interessante para observar a comoção de uma massa em busca de seus direitos e a organização das cabeças chaves do movimento. 

Ilha das Flores, 1989 - dur. 15min 


Cena do documentário "Ilha das Flores"

O documentário/curta-metragem, do diretor Jorge Furtado, mostra de maneira educativa o ciclo de um produto em associação aos seus meios de troca. É uma análise inteligente de valores que as coisas têm – uma flor tem um valor e o perfume tem outro, a relação entre venda e lucro. Principalmente, o valor da vida. O retrato da nossa sociedade deturpada sobre darmos valores aos produtos e esquecermos dos seres humanos nas margens da nossa visão é escancarado nesses 15 minutos. 

Em uma determinada parte do documentário, mostra a chegada desses resíduos sólidos nos aterros a céu aberto, que estão em processo para serem extinguidos do Brasil, e a situação dos moradores daquela ilha. Nos outros documentários, eu falei mais sobre os acontecidos pois eles eram mais longos, e como esse é menor, acredito que valha a pena assistir e descobrir sobre o que eu falo. 

Notícias de uma Guerra Particular, 1999 - dur. 57 min 


Cena do documentário "Notícias de uma Guerra Particular"

Esse documentário dirigido por Kátia Lund e João Moreira Salles traz diversas entrevistas com traficantes, pessoas da comunidade, jovens que acabaram de entrar no mundo crime, delegados e o policial que daria inspiração ao Capitão Nascimento do filme “Tropa de Elite”. 

As entrevistas com as crianças são as mais chocantes para mim, relatando com uma tranquilidade fria sobre as primeiras missões dadas por seus patrões, sendo uma criança de 11 anos matar um “X9” ou outras crianças servindo como farol para a chegada da polícia. A conversa com uma família mostrou a ambiguidade do tráfico na favela que, ao necessitar de um remédio, que custava mais que o seu salário, os “donos do morro” ajudavam, mas a quem necessitasse um aviso, eles não tinham pena de esquartejar e deixar a mostra como um recado para os outros. 

O delegado famoso por prender grandes nomes e ajudar a diminuir sequestros relâmpagos no Rio na década de 90, Hélio Luz, deu uma entrevista extensa e importante, apontando as falhas sociais que intensificam os problemas nas comunidades e os fatores que levam a polícia do Rio de Janeiro ter aquela tática agressiva usando armas feitas para exército. Essa é uma indicação quase que obrigatória para que possamos enxergar as coisas além do conforto das nossas casas, uma visão da realidade alheia talvez nos faça filosofar e questionar certas coisas. 

O Barato de Iacanga, 2019 - dur. 1h 33min 


Cena do documentário "O Barato de Iacanga"

Para fechar as indicações com um tema mais leve e mesmo assim histórico, decidi escolher esse após uma indicação da colega de blog (Luiza de Toledo) e, apesar de eu não ser a maior fã de música brasileira, achei sensacional essa obra. O documentário dirigido por Thiago Mattar mostra relatos do "Woodstock brasileiro", o Festival de Águas Claras que começou como um churrasco de fazenda e se transformou em um dos maiores festivais da época. 

A primeira edição aconteceu em 1975 e tiveram outras três. Começou como um festival mais focado no rock e foi alterando para MPB. As filmagens contam com Luiz Gonzaga, Sandra de Sá, Raul Seixas, Gilberto Gil e outros grandes nomes. O encontro com uma vibe paz e amor trouxe para 15 mil pessoas a liberdade que buscavam durante o período de Ditadura Militar, e me deixou com a sensação de que a arte pode mover o mundo. O documentário mostra entrevistas no passado e no presente com os organizadores do festival, relatos de pessoas da região e as filmagens do festival. Esse é um documentário disponível na Netflix que trouxe uma leveza e música para a minha vida, espero que gostem também. 
Sandy Banazequi

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Sandy Banazequi

23 anos, estudante de engenharia civil, Usain Bolt da leitura/séries e chorona que ama músicas tristes.

2 comentários

  1. Oi Sandy, tudo bem?
    Eu não tenho o hábito de assistir documentários, mas esses que você selecionou parecem tão interessantes que eu poderia abrir uma exceção.
    Lembro de ter assistido Ilha das Flores na escola, mas da lista O Holocausto Brasileiro foi o que mais chamou a atenção, apesar de parecer mega pesado.
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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    Respostas
    1. Olá, querida! Tudo tranquilo por aqui e por aí?

      Eu também não vejo muitos documentários, mas esse ano coloquei algumas metas e essas datas comemorativas me impulsionaram a ver mais coisas fora do meu "padrão" de cinema/televisão.
      Olha, apesar de ser pesado, eu acho que é um documentário sensacional que a sociedade em geral deveria assistir. O Barato de Iacanga é o mais tranquilo de todos e super legal também.
      Beijocas ♥

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