Crítica: Coisa Mais Linda (segunda temporada) (com spoilers!)

Personagens da série Coisa Mais Linda (da esquerda para direita) Adélia, Malu, Thereza e Ivone
 
“O amor tem muitas formas. Ele pode durar a vida inteira. Ou pode durar só um verão. Você pode amar alguém que tá perto de você todos os dias. Ou você pode amar muito alguém que tá longe. O amor também pode começar como uma amizade. E quando você vê, você não consegue viver sem aquela pessoa. O amor pode ser muitas coisas. O amor é vida. O amor é acolhimento, aceitação. O amor pode ser também perdão. Mas se tem uma coisa que o amor não é, é violento. O amor não é morte.”

Quando a Netflix lançou Coisa Mais Linda, em 2019, eu não sabia nada sobre a série – não tinha lido nenhuma sinopse, nem assistido nenhum trailer. Uma amiga sugeriu que assistimos e maratonamos tudo em praticamente um dia, bem daquele jeito que a gente faz quando uma série nos prende e a gente não pode parar de assistir até saber o que acontece no próximo episódio. Durante aquele um dia de maratona. me apaixonei pela série – pela estética do fim dos anos 50, pela trilha sonora, pelas personagens, pela trama… E quando chegou o último episódio com aquele final aberto que deixou todo mundo arrasado e ansioso, eu mal podia esperar pela segunda temporada.

Ela chegou no mês passado e eu não resisti e maratonei a temporada toda novamente em um dia. Por trás do cenário lindo do Rio de Janeiro de 1960, dos figurinos chiquérrimos, da bossa nova e do jazz que embalam as histórias dessas mulheres, nos deparamos com temas muito mais sombrios por trás do clima ensolarado da série. 

Depois de se recuperar do coma e da traumática noite em que perdeu sua melhor amiga, Malu se vê impotente com a volta do ex marido, ela e Adélia perdem o clube que lutaram tanto para abrir. Adélia, por sua vez, apesar de agora ser sócia de um clube famoso, ainda precisa lidar com o racismo, pessoal e estrutural, que assola nossa sociedade, não só na vida dela mas também na vida de sua filha, Conceição. Thereza passa por um desgaste em seu casamento por não gostar da vida de dona de casa que adotou no fim da última temporada e resolver voltar à trabalhar. 

A violência doméstica sofrida por Lígia continua a mover a história e suas consequências são vividas nos últimos dois episódios, onde ocorre o julgamento de Augusto, escancarando todo a misoginia que envolve o caso, a justiça e como ela distorce tudo à favor do assassino, que passou como apenas um marido torturado pelo ciúmes e que cometeu um “crime passional”.

Todas elas passam por problemas que são facilmente interpretados como coisa do passado, porém são mais atuais do que nunca – e é um dos motivos pelos quais a série é tão relevante e nos impacta tanto. Vemos essas mulheres tão diferentes uma da outra passarem por situações que, infelizmente, eram normais nos anos 60 e que continuam normais em 2020, fazendo um espelho com as vidas de tantas de nós que nos vimos representadas na tela, de uma maneira ou de outra.

Apesar de tudo isso, o tema que mais me chamou atenção ao longo dos novos episódios foi como a série trata sobre o amor. Não só o amor romântico, que vemos quando Malu sente saudades de Chico e enquanto isso se aproxima mais e mais de Roberto ou quando vemos Adélia se sentindo dividida entre Capitão e Nelson. O que mais me emocionou foi ver o amor incondicional de Adélia pela sua filha e como ela está disposta a mudar toda a sua vida por ela. O amor de Ivone pela música e a resiliência dela para começar a construir uma carreira. O amor de Malu pela melhor amiga que se foi e sua luta, juntamente com Thereza, para fazer justiça à sua memória. E ela o faz, apesar do assassino de Lígia sair praticamente impune, em seu discurso na rádio, que, pra mim, é uma das cenas mais bonitas de toda a série.

A temporada termina com mais um cliffhanger, outro final aberto chocante e que nos deixa com mais perguntas do que respostas – e cujo eu não vou revelar aqui porque já revelei demais, rs. Mal posso esperar para a terceira temporada (que ainda não foi confirmada pela Netflix, mas espero que aconteça!) e para o desenrolar dessa série, que tem muito potencial de ser ainda mais incrível.
Luiza de Toledo

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Luiza de Toledo

23 anos, estudante de letras, professora, pseudo-cinéfila e sommelier de fanfiction.

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