Resenha: Sonata em Punk Rock, Babi Dewet (Cidade da Música Vol. 1)

Capa do livro "Sonata em Punk Rock" de Babi Dewet

"Por que alguém escolheria uma orquestra se pode ter uma banda de rock? Essa sempre foi a dúvida de Valentina Gontcharov. Entre o trabalho como gerente do mercado do bairro e as tarefas de casa, o sonho de viver de música estava, aos poucos, ficando em segundo plano. Até que, ao descobrir que tem ouvido absoluto e ser aceita na Academia Margareth Vilela, o conservatório de música mais famoso do país, a garota tem a chance de seguir uma nova vida na conhecida Cidade da Música, o lugar capaz de realizar todos os seus sonhos. No conservatório, Tim, como prefere ser chamada, terá que superar seus medos e inseguranças e provar a si mesma do que é capaz, mesmo que isso signifique dominar o tão assustador piano e abraçar de vez o seu lado de musicista clássica. Só que, para dificultar ainda mais as coisas, o arrogante e talentoso Kim cruza seu caminho de uma forma que é impossível ignorar. Em um universo completamente diferente do que estava acostumada, repleto de notas, arpejos, partituras, instrumentos e disciplina, Valentina irá mostrar ao certinho Kim que não é só ele que está precisando de um pouco de rock’n’roll, mas sim toda a Cidade da Música."

Nunca havia lido histórias que envolviam um universo tão musical, e achei que foi um plano de fundo muito interessante de conhecer. Além de retratar Valentina, uma protagonista cheia de personalidade, que constantemente demonstra grande persistência para alcançar seus objetivos e é também muito consciente a respeito de assuntos como sororidade, machismo e racismo, mesmo sendo em cenas muito breves no decorrer na história.

O outro personagem destaque é Kim, um rapaz descendente de coreanos (fiz a escolha aleatória de imaginá-lo como o charmoso Lee Jong-Suk) que é o melhor pianista da Academia, o grande galã da faculdade e um cara de poucos amigos (ou praticamente nenhum) e por muitas vezes um tanto grosseiro, de forma a afastar o máximo de pessoas possível. É um tanto típico e pode até ser irritante, porém você acaba simpatizando um pouco com ele com o tempo e conhece um pouco mais do que há por trás de sua fachada fria e orgulhosa.

Algo que me causou um pequeno estranhamento foram alguns diálogos, principalmente alguns que ocorriam entre Valentina e Kim. Não manjo de construção de diálogos, porém como leitora foi algo que observei. Algumas falas eram um pouco curiosas, como se pudessem ter sido expressadas de uma maneira diferente. Por vezes, me remetiam aos famosos dramas coreanos (o que me faz imaginar que há uma influência real aí, já que a autora diversas vezes manifestou seu gosto por dramas coreanos e cultura pop coreana no geral em suas redes sociais), os quais já assisti alguns e me divertiam bastante, mas muitas vezes continham diálogos e cenas que, pessoalmente, me incomodavam pela forma que pareciam ter frases de efeito forçadas em situações que não havia necessidade. Contudo, essa impressão não ocorreu durante toda a leitura, somente em poucas cenas.

Me entretive com as interações de Valentina e Kim, bem naquele estilo clichê de amor e ódio, entre tapas e beijos, depois de um bom tempo sem ler histórias com romance, e fiquei contente de ter gostado e não ficado apática ao gênero depois de anos sem consumir algo nesse estilo.

Com uma história que se passa em um ambiente tão distinto da realidade e personalidade de Valentina, que é a mais pura adolescente rockeira que não tem origem privilegiada na questão financeira e que, de repente, se encontra em uma escola tradicional e elitista de música clássica repleta de alunos com boas condições que cresceram com instrumentos caros em casa, sua adaptação ao ambiente – e a adaptação da própria Academia à sua presença –, sua alegria por encontrar bons amigos que a acolhem e não a julgam e suas conquistas pessoais no decorrer da história são envolventes, deixando o leitor contente por suas pequenas vitórias e amadurecimento na Margareth Vilela.

Não foi o meu livro YA favorito da vida, com alguns personagens e relações pouco exploradas, sem nenhum aprofundamento ou possível resolução. Mas ainda é uma história bacana que me proporcionou uma leitura leve e me entreteve durante as tardes e noites que li antes de dormir. Aos que gostam de se divertir um pouco com histórias sobre cumprir objetivos desafiadores, se permitir abraçar coisas novas e diferentes e manter-se verdadeiro com si mesmo, com um tanto de música envolvida e doses suaves de romance, é uma boa pedida.

Um fato interessante é que a autora nomeia cada capítulo com músicas dos mais variados gêneros e artistas, desde bandas de punk rock e grupos de kpop até famosos compositores clássicos. Aos que curtem ouvir músicas durante uma leitura, funciona como uma playlist (tem uma oficial no Spotify) e uma forma de imersão maior na história.

Sonata em Punk Rock está à venda em diversas lojas online e faz parte da série Cidade da Música, que já possui um segundo volume (Allegro em Hip Hop) e um terceiro e último volume está em desenvolvimento, ainda sem data para lançamento.
Giovanna Napoli

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Giovanna Napoli

23 anos, designer gráfico, gateira que gosta de falar de animes e ouvir kpop.

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