Uma linha do tempo para conhecer melhor o cinema nacional

No dia 19 de junho foi comemorado o Dia do Cinema Nacional, em comemoração às gravações das primeiras imagens cinematográficas gravadas aqui no Brasil, na Baía de Guanabara, nesse mesmo dia em 1898. Chegamos um pouquinho atrasadas pra falar mais sobre algumas produções tupiniquins de épocas e tendências diferentes, que têm muito a falar sobre a nossa história e nossa cultura – e também pra lembrar-nos de sempre valorizar as produções nacionais, que têm uma longa história de luta pelo seu reconhecimento.


O Cangaceiro, 1953 - dir. Lima Barreto


Cena do filme "O Cangaceiro"

Entre 1949 e 1954, funcionou em São Paulo a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, responsável pela industrialização e desenvolvimento do cinema brasileiro dentro do efervescente cenário cultural da época, levando filmes produzidos aqui para todo o mundo – seguindo seu slogan “do planalto abençoado para as telas de todo o mundo”. A sua produção mais famosa – e premiada pelo festival de Cannes – é o filme “O Cangaceiro”.

Uma mistura de épico e romance no “faroeste nordestino” (copiando a fórmula dos westerns norte-americanos) que deu origem à todo um gênero de filmes ambientados no cangaço, o filme tornou-se um clássico brasileiro, sucesso de crítica e de bilheteria, com a participação de Adoniran Barbosa no elenco, trilha sonora dos Demônios da Garoa e a colaboração entre o diretor e a escritora regionalista Rachel de Queiroz.


Terra em Transe, 1967 - dir. Glauber Rocha


Cena do filme "Terra em Transe"

Apesar de ser ambientado na fictícia República de Eldorado, “Terra em Transe” não poderia refletir melhor a situação do Brasil – e de outros países da América Latina – nos anos 1960, quando foi produzido, e também de hoje. O filme mistura a vida (e morte) do poeta e intelectual Paulo Martins com a história de Eldorado, entre as tramas de políticos, religiosos, ativistas, artistas e intelectuais.

Foi censurado por ter sido considerado “subversivo” e passou algumas semanas fora de circulação. Ele monta uma alegoria que retoma o golpe militar de 1964, mas também é extremamente relevante para toda a história política do Brasil, que se repete na forma do discurso moralista, da hipocrisia das autoridades (e do povo) e da luta por direitos e por igualdade.


Dona Flor e seus Dois Maridos, 1976 - dir. Bruno Barreto


Cena do filme "Dona Flor e seus Dois Maridos"

Baseado no romance homônimo de Jorge Amado, “Dona Flor e seus Dois Maridos”, “Dona Flor e seus Dois Maridos” foi recorde de público por 34 anos, levando 10 milhões de pessoas ao cinema. As atuações de Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça imortalizaram a história da viúva Dona Flor, seu falecido marido boêmio Vadinho e seu novo amor, o recatado Teodoro Madureira.

O filme tem um tom de realismo fantástico (presente em toda a obra de Jorge Amado) – pela presença do espírito de Vadinho, que só é visto por Dona Flor – e segue a tendência dos anos 1970 da mistura de humor e erotismo – desafiando a moral conservadora da época e até sendo censurado por isso – tudo isso embalado pela trilha sonora de Chico Buarque. A história de Jorge Amado foi adaptada novamente duas vezes – em 1998, em forma de minissérie na Rede Globo, e em 2017, em um filme estrelado por Juliana Paes, Marcelo Faria e Leandro Hassum.


Cabra Marcado Para Morrer, 1984 - dir. Eduardo Coutinho


Cena do documentário "Cabra Marcado Pra Morrer"

Em 2017, “Cabra Marcado Para Morrer” foi eleito “o melhor documentário brasileiro de todos os tempos” pela ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Ele traz a história de João Pedro Teixeira, líder camponês da Paraíba, que foi assassinado em 1962.

Originalmente, a produção é de 1964, mas com o golpe militar que ocorreu no mesmo ano, teve de ser interrompida quando a polícia cercou o engenho da Galileia, onde estavam sendo realizadas as filmagens e prendeu a equipe, acusando-os de serem “comunistas”. A equipe se dispersou e só se reuniu 17 anos depois, quando o diretor se encontrou com a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, e seus 10 filhos, para reconstruir a história dele e das Ligas Camponesas da Paraíba.


Central do Brasil, 1998 - dir. Walter Salles


Cena do filme "Central do Brasil"

Indicado à Melhor Filme Estrangeiro na 71ª Edição do Oscar, em 1999, e rendendo também à Fernanda Montenegro a indicação na categoria de Melhor Atriz (tornando-a a primeira latino-americana a conseguir tal feito), “Central do Brasil” é um marco do cinema nacional, levando nosso cinema para o mundo, e é um dos filmes representa a retomada das grandes produções de qualidade no país, depois da crise nos anos 1980.

Com o formato de “road movie” (filme de estrada), ele segue Dora, uma professora aposentada que escreve cartas para pessoas analfabetas na Central do Brasil (a estação rodoviária que dá nome ao filme) e Josué, um menino que acabara de ficar órfão de mãe e busca pelo pai. Os dois, então, partem em viagem do Rio para o sertão nordestino e tem suas vidas entrelaçadas para sempre. O filme está disponível na plataforma Telecine Play.


Que Horas Ela Volta?, 2015 - dir. Anna Muylaert


Cena do filme "Que Horas Ela Volta?"

“Que Horas Ela Volta?” estreou no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, em 2015 e foi eleito pela ABRACCINE o melhor filme daquele ano, trazendo um tema que é, infelizmente, sempre relevante no nosso país: a desigualdade social. Com Regina Casé no papel principal, nos traz a história de Val, que saiu de Pernambuco em busca de um emprego em São Paulo – representando a história de milhares de outras brasileiras – e deixa sua filha, Jéssica, sob os cuidados do avô. Anos depois, as duas se reencontram enquanto Val trabalha na casa de uma família de classe média alta. A presença de Jéssica na casa e na vida da família gera o conflito do filme, mostrando a hipocrisia dos que diz que considera Val “parte da família”, mas que ainda se vêem como superiores à ela e a filha. 

O longa gerou muita discussão em torno da vida e do trabalho das empregadas domésticas no Brasil e foi extremamente elogiado por como abordou o assunto, levando-o para plataformas maiores e encorajando outras mulheres que viveram histórias parecidas com as de Val à compartilhá-las.
Luiza de Toledo

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Luiza de Toledo

23 anos, estudante de letras, professora, pseudo-cinéfila e sommelier de fanfiction.

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